29 de maio de 2010

Planos pro jantar

Entre planejamentos e intenções
Preso aos planos como o pano sobre a mesa de jantar
Debaixo de copos e gostos ao centro de conversas ao redor

Derrubo alguns copos e desperdiço alguns grãos
Eles caem ao chão, mas não fico olhando

Cuidando para não derrubar o mesmo copo duas vezes
Puxo o pano por debaixo dos gostos para mudar essas conversas
Mudando logo o pano de fundo e os planos em um segundo

Os copos mudam de lugar e os gostos se adaptam ao procurar
O corpo procura outros olhos para enxergar
E os planos sobre este velho pano relutam em continuar

Procuro novos copos e me adapto a novos grãos
A liberdade para agir está na coragem de mudar

(por Igor Baseggio)

28 de maio de 2010

Troca

O olhar tênue e um sorriso simples
Os olhos se encontram e uma mão enxerga a outra
Num momento repentino, mas ainda esperado
Os lábios se tocam e a noite se colore com estalos

Os dias se passam e duas vidas seguem
Cada uma pelo seu caminho
O toque vem na hora certa
Ele disse para não ter pressa

As pernas se enroscam uma na outra
O braço abraça as costas e descansa
A conversa longa ao centro da cama
Uma troca que promete lembrança

Os meses se passam e duas vidas seguem
Cada uma pelo seu caminho
O toque vem na hora certa
O abraço não deve ter pressa

(por Igor Baseggio)

20 de maio de 2010

Sentido inconcreto

Às vezes a poesia é pedante
Não tem pra onde correr
Ela fala do sentimento óbvio
Mas não fala da concreta situação

A poesia não tem sentido em si
Entre vírgulas e pontos invisíveis
O sentido está naqueles que a escutam pelo simples fato de ser poesia

Já a prosa lembra o contar de uma história
Que entre vírgulas e pontos pede sentido
Um sentido que existe pelo simples fato de ser prosa

A poesia não é igual à prosa, que em nós se enrola
É como um quebra-cabeça, que em pedaços se encaixa
Uma letra puxa a outra
Uma palavra puxa a próxima
A rima pode ser aleatória
Os versos muitos ou poucos
Não importa

A poesia fala por palavras e sons
Como qualquer conversa na esquina
Mas a poesia nunca fala da concreta situação
Porque mesmo que não seja concreto
Talvez seja este seu único sentido
Rimar os sentimentos por completo

(por Igor Baseggio)

17 de maio de 2010

Priva cidade

Às vezes a privacidade é um mito
Minto
Às vezes a minha cidade é um mito
Sinto

Em retas e setas planejadas
Sigo
Sob tetos e linhas paralelas
Vivo

Minha cidade é
Um mito
De privacidades
Sinto muito

(por Igor Baseggio)

13 de maio de 2010

Eloqüência

A eloqüência, que passou e pegou o cara sentado e despreparado
Num dia que prometia trazer uma noite como qualquer outra,
Deu um soco na consciência do cara que estava sentado
Prometendo há dias acreditar na eloqüência de sua própria ideologia.

A ironia, é que o cara sentado arquitetava há dias como gritar a sua ideologia
A verdade, reafirmada pelo ser que o lembrou de abrir a cabeça com sua antropologia,
É que acreditar em si faz do seu mundo o lugar da sua alegria
Que o seu conhecimento é o combustível capaz de mover um mundo todos os dias

Belamente ditas, as palavras lhe fizeram total sentido.
Os gestos expressivos lhe foram percebidos o tempo todo.
Os olhos, por momentos, observaram atentos um e outro,
Mas entorpecido, o cara sentado nem sequer fez sentido.

A crença na própria essência é capaz de lhe abrir todas as portas.
Um ser generoso alertou o cara sentado sobre sua capacidade
De acreditar em si e seguir em frente abrindo suas próprias portas.
Suas incríveis palavras ressoaram por todas as suas partes!

O cara sentado, que há dias maquinava engenharias para caminhar pelo mundo,
Desassossegado e mal educado, havia deixado sua eloqüência em algum lugar guardado.
Enquanto a tentativa de acesso lhe era bem vinda e certamente haveria ali seu espaço,
Deixou-lhe escapar, sem querer, uma oportunidade, ainda que não seja por acaso.

(por Igor Baseggio)

Contraste arte

A capacidade da arte
Reside na vulnerabilidade em mostrar contrastes
Desapegando-se das partes
Tornando-se arte

A capacidade das partes
Reside nos contrastes que criam arte
Desapegando-se da vulnerabilidade
Mostrando os contrastes

A vulnerabilidade do contraste
Reside na capacidade em mostrar partes
Desapegando-se do contraste
Juntando as partes

Na verdade,
A verdade da arte
Reside na capacidade de juntar as partes

(por Igor Baseggio)

11 de maio de 2010

Dois

São duas as honras e são duas as coisas
Mas são suas as fronhas

São duas lorotas e são duas anedotas
São nossas as derrotas

São duas as flores e são duas as dores
São estes os operadores

Não entrego flores, planto sementes
Não escrevo cartas, solto palavras
Não faço serenata, rimo na sacada

Não espero o sim.
Preciso, outrossim, não fazer assim.
Busco dizer que convim.

(por Igor Baseggio)